terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Vídeos para ouvir

Um Feliz Natal e um próspero Ano novo para todos, e que em 2010 continuemos aproveitando os sonhos!!!

Guilherme de Magalhães Trindade

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Músicas para ler...



Deu na TV (Nei Lisboa)

O presidente dos Estados Unidos
Salvou a Terra do choque de um cometa
E eliminou os terroristas malvados
Que ameaçavam dominar o planeta

O presidente não poupou esforços
Arremessando aviões e foguetes
E embora errando uns tantos alvos
Mereceu dos seus os seus aplausos

Eu vi, deu na TV, veja você
Mas é de se perguntar
Onde é que Watergate foi parar?

Eu vi, deu na TV, e quase acreditei
Ahá, hã, hã
Mas quem é que se deu mal no Vietnã?

O presidente dos Estados Unidos
Protege o mundo livre do mundo preso
E prende todo mundo que for preciso
Pra não deixar o presidente indefeso

O presidente é belo e corajoso
E religioso ao falar à nação
Sobre os boatos sem sentido
Do assassinato de um inimigo

O presidente é quase sempre honesto
E nascido na Carolina dos fundos
Onde se fuma e não se traga
E não se sabe o que é que estraga o mundo

Eu vi, deu na TV, veja você
Mas é de se perguntar
Onde é que Watergate foi parar?

Eu vi, deu na TV, e quase engoli,
Mas não, não vai dar
Que esse charuto tem um lugar mais justo pra entrar


Aproveitem a música.

Guilherme de M. Trindade

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Poemas do Sul...

Cusco Cego (Apparício Silva Rillo)

Este cusco brasino, cara branca,
pequenote e rabão,
que o parceiro está vendo enrodilhado
aí perto do fogão,
foi mordido de cobra na paleta
quando troteava atrás de uma carreta,
cruzando um macegão.

Resultou de tal manobra
que o veneno dessa cobra
cegou meu cusco rabão!

Faz um tempão
que se deu esse tropeço...
Dava pena, no começo,
ver o cusco atarantado,
pechar de frente e de lado,
chorando como um cristão.

Agora,
vagueia solotário pelo pátio,
perdido nessas noites sem aurora
que um dia lhe desceu sobre a retina.
Por isso,
quando a noite se embalsama de perfumes
e os pequenos e inquietos vagalumes
acendem lamparinas nos brejais,
eu maldigo a injustiça do destino
que não ouço o uivo triste do brasino
chorando a lua que ele não vê mais.


Aproveite a Poesia

Guilherme de M. Trindade

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Vídeos para ouvir...

Navegando pela imensidão virtual, encontrei esta preciosidade....vale conferir!!!

1.000 visitas!!! Obrigado a todos aqueles que frequentam o blog!!!

Aproveitem os momentos de trabalho.

Guilherme de M. Trindade

sábado, 10 de outubro de 2009

Mãe...

"Quando nasci, após conhecer a dor que impulsiona o choro,
Fiz ninho no calor dos teus braços.
Membros torneados por Deus em exata proporção de meu pranto.

Por almejar novos sabores, ao crescer abandonei o ninho.
E longe do teu carinho aquerenciei-me em outros braços.
Porém, a felicidade, por andar travestida, por vezes também me fez triste.

Por sorte, meu ninho se fez forte.
Resistiu ventos e temporais
Permitindo que para calar meus medos e incertezas, voltasse.

Por isso eu volto.
Porque as que marcas do tempo não desfizeram o laço
E sei que teus braços me esperam com o calor do primeiro abraço.

Mas por ser ave tenho sempre os ares por destino,
E é por saber do regresso no próximo veranico
Que se faz meu vôo mais bonito.

Por isso eu volto."

(Para minha mãe com todo amor do mundo.)

Aproveitem seus aniversários.

Guilherme de M. Trindade

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Em setembro eu me lembro...


Devido ao excesso de trabalho dos últimos dias, restaram comprometidos o posts semanais, que vinham a ser possíveis até então.

Destarte, peço desculpas àqueles que acessaram o blog em busca de uma nova leitura.

Assim, e, à pedidos, volto a postar um poema de minha autoria concebido em setembro, ano de 2006.

Em Setembro eu me lembro

Já não recordo mais do gosto dos teus lábios
Morango ou amora?
E de que me vale a demora se o tempo congela?

O amor não se vai com o vento
Do mesmo jeito que se vão as pétalas que caem no chão

Teu cheiro, não mais lembro
Mas naquela manhã de setembro
Naquele inverno, naquele momento
Ah!! Sim o teu cheiro
Mais belo que a mais linda flor
E o que me fazia feliz, hoje me traz apenas meias lembranças
Nenhuma esperança, muito menos amor

Agora eu me lembro sim
Teu cheiro, tua boca, como se fez esquecer?
A boca mais doce que o mais puro mel
Talvez produzido na mais linda manhã
Sim tua boca....eu me lembro

Teu cheiro...como fruta silvestre
Recém colhida
Louca para ser mordida
Traria um corpo à vida

Mas porque o tempo congela?
Por que me afastar de ti?
O teu gosto e o teu cheiro leva-se
Mas daquela manhã de setembro
Daquele inverno, e até mesmo por muitos invernos
A tua boca ficará na minha
E o teu cheiro no meu.

Aproveitem a poesia.

Guilherme de M. Trindade

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Pra quem faz (Tio Zé como lo vejo)



Na mesma senda do post anterior, este também tem o intuito de homenagear aquele que já está nos fazendo muita falta: Tio Zé Bicca.

Destarte, quem nos empresta seus versos é Rafael Haas, barranqueiro, colega de profissão e irmão de arte.


Pra Quem Faz (Tio Zé Bicca como lo vejo)

Autor: Rafael Haas

Quem Faz do mundo uma grande Barranca
E da Barranca um universo a parte
Leva no peito chama e sentimento
E um coração que Generoso bate

Quem faz da cara um brasão de verdades
Tem no bigode a honra em cada fio
A vida escrita em verso e melodia
Canções verdades de pampa e de rio

Quem faz do peito uma cruz de Lorena
Tem quatro braços pra abraçar irmão
Nesse costume de cevar amigos
Se faz história no mover das mãos

E em rodas de mate, trago, violão e vida,
Um riso largo a qualquer idade
No espirituoso e fraterno convívio
Um peito aberto que verte sensibilidade

No entanto a vida que é jogo e que é sorte
Nos bota pialos pra nos ver no chão
Nos deixa então a procurar sentido
Numa rodada sem explicação

Mas ela aplica somente seus testes
À garrões fortes que agüentam o repuxo
Que sabem fazer da queda um recomeço
Com a mesma fibra e essência gaúcha

Quem faz da vida um belo ensinamento
É alicerce a cada um de nós
Deixa seu rastro que é caminho certo
Por que o exemplo é muito mais que a voz


Aproveitem a poesia

Guilherme de Magalhães Trindade

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Tio Zé, o Generoso....

Cada palavra que se espalha nesta página carrega a dor das voltas que dá o torniquete amarrado ao coração, e, eterna será a saudade que o Angüera Zé Bicca deixará na lembrança daqueles que comungaram com ele uma roda de violão, ou uma cuia de chimarrão.

Hoje, as águas do Uruguai, que outrora serviram de maestrina para suas canções, amanheceram revoltas. Espinhéis não serão lançados a elas em respeito ao pesar dos Dourados e Lambaris. Os grilos, seus colegas de cantoria, por tristeza, também hoje não cantarão. As rodas sempre embaladas por suas estórias, e regadas a boas risadas se farão silentes sem que um padre nasça.

Hoje, usaremos nossas cruzes de Lorena, e, quando a madeira das portas e janelas estalarem, quando as velas sozinhas se apagarem, ou quando o violão bordonear suas cordas sem que a mão da enxada as toque, chorando sorriremos.

Lá, os anjos, barranqueiros de outrora, entoarão o “Generoso” para embalar os abraços cheios de saudade dos companheiros Rillo e Julião, que o receberão de violão em punho, e em festa, o céu se fará palco à beira do rio, como uma missa sem ritual, um comício de espíritos.

Cumpriste teus anos por aqui e por ali, e, embora outra querência tenha lhe chamado para matar sede em outro rio, teus filhos, sobrinhos e amigos lhe asseguram...nas Barrancas do futuro, virão cantando por ti.

Aproveitem a vida.

Guilherme de Magalhães Trindade

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Menina Flor

Plantada nos confins do coração,
Aos 15 desabrocha a Menina Flor.
Cerne que distorce a razão,
Sonho que se roga com amor.

Plantada nos confins da menina
Aos 15 desabrocha a flor da razão.
Inocente amor pela vida,
Pétala que se rega à mão.

Plantado nos confins do amor,
Aos 15 desabrocha o coração da menina.
Ser Bela é a razão da flor,
Ser breve, a lição da vida.

Plantado nos confins da sina,
Aos 15 desabrocha o amor.
Quando a flor se faz menina,
A criança se fez flor.

Para Izabela com amor.

Aproveitem a poesia.

Guilherme de M. Trindade

terça-feira, 1 de setembro de 2009

A camada pré-sal e o país do futuro...

Há tempos a mídia estampa a descoberta de petróleo na camada pré-sal como o descobrimento do século. O governo brasileiro vangloria-se assumindo a autoria do feito, indicando como responsável de tamanha façanha sua nova sucessora. O povo, devorador fugaz de notícias impressas em letras garrafais, por consequencia, sai às ruas bradando: “- O petróleo é nosso!”.

Líquido que movimenta o mundo, o petróleo também fomenta o cartel da “máfia petrolífera”, que por sua vez regula as economias, aumenta as desigualdades sociais, patrocina guerras e cria pseudo-potências mundiais como o Brasil.

A prova disto, é que há mais de uma década outro governo já se vangloriou ao anunciar ser o Brasil autossuficiente (relação consumo/produção), inclusive exportando o nosso petróleo por preço irrisório para os países desenvolvidos. (Brasil = Eterna Pseudo-Potência, o país do futuro....sempre!)

Doutra banda, o povo, eterno entusiasta das “conquistas do governo”, amarga nas bombas de combustível preços altíssimos, eivados de impostos, e, cego, não percebe que quanto mais petróleo se descobre, mais prisioneiro ele se torna desta tecnologia há séculos ultrapassada.

O veículo movido a álcool, talvez a maior invenção brasileira, sequer deixou a maternidade com vida. As empresas automotivas, ao perceberem que o baixo consumo de seus produtos provinha dos altos preços do combustível nas bombas, criaram veículos movidos a álcool e gasolina concomitantemente.

A máfia, por sua vez elevou o preço do álcool, equiparando-o com o da gasolina, obrigando os dependentes da autolocomoção voltar a consumir os derivados do petróleo, uma vez que o muito caro ainda mostrava-se mais barato.

Para a solução do problema, diante da eminente escassez do petróleo, vieram à tona, da noite para o dia, diversas alternativas até então ocultas pelo cartel petrolífero regido pelas multinacionais, quais sejam: biodiesel, energia solar, energia elétrica, e até mesmo água.

Soluções de baixo custo que acabaram frustradas pelo “grande achado” do Brasil.

Assim, enquanto o governo utiliza-se da descoberta de petróleo na camada pré-sal como “palanque” para a autopromoção, fica a dúvida invisível aos olhos, e, inaudível aos ouvidos dos amantes das notícias vinculadas: Como será feita a extração deste petróleo?

A resposta ninguém precisa saber. O que importa é a descoberta. Mas a título de curiosidade, a camada pré-sal encontra-se a mais de 7 km de profundidade em alto mar, enquanto o Titanic descansa naufragado a aproximadamente 4 Km, e jamais na historia foi possível resgatar de um navio afundado a esta profundidade.

Uma coisa bem se sabe, o mundo é redondo e quanto mais se fura, maior abre-se uma cratera no céu em algum lugar.

Aproveitem as verdades

Guilherme de M. Trindade

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Leituras obrigatórias...

“Caminhar é um perigo e respirar é uma façanha nas grandes cidades do mundo ao avesso. Quem não é prisioneiro da necessidade é prisioneiro do medo: uns não dormem por causa da ânsia de ter o que não têm, outros não dormem por causa do pânico de perder o que têm. O mundo ao avesso nos adestra para ver o próximo como uma ameaça e não como uma promessa, nos reduz à solidão e nos consola com drogas químicas e amigos cibernéticos. Estamos condenados a morrer de fome, morrer de medo ou a morrer de tédio, isso se uma bala perdida não vier abreviar nossa existência.”

(Eduardo Galeano - Livro: De pernas pro ar - Escola do Mundo do Avesso)

Aproveitem a literatura.

Guilherme de M. Trindade

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Músicas para ler...

Eu só peço a Deus (León Gieco)

Versão em português: Raul Ellwanger

Eu só peço a Deus
Que a dor não me seja indiferente
Que a morte não me encontre um dia
Solitário sem ter feito o que eu queria

Eu só peço a Deus
Que a injustiça não me seja indiferente
Pois não posso dar a outra face
Se já fui machucado brutalmente

Eu só peço a Deus
Que a guerra não me seja indiferente
É um monstro grande e pisa forte
Toda pobre inocência dessa gente

Eu só peço a Deus
Que a mentira não me seja indiferente
Se um só traidor tem mais poder que um povo
Que este povo não esqueça facilmente

Eu só peço a Deus
Que o futuro não me seja indiferente
Sem ter que fugir desenganando
Pra viver uma cultura diferente
Aproveitem as canções.
Guilherme de M. Trindade

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Estava escrito....


Nos muros de uma igreja em Novo Hamburgo/RS:

"Homo Sapiens....eu vim do macaco!"

Em um ônibus em Porto Alegre/RS:

"Denunciei por maus tratos os saldos de meus extratos."


Aproveitem as diversas formas de manifestações.

Guilherme de M. Trindade

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Mensagem à meu pai...


Sábado à noite já se dormia ansioso.

Domingo era dia de alvoroço.

O primeiro passo ao acordar era verificar o tempo.

A chuva nos condenaria à televisão.

O sol nos daria a certeza.

Os dias nublados precisariam algumas insistências e argumentos de que não choveria.

Afinal, domingo era dia de pescaria.

Corríamos para encher de minhocas a enferrujada lata de achocolatado em pó. Alguns amigos da rua, e, com a velha Chevrolet Veraneio 1980 lotada meu pai levava a turma para pescar.

Ensinou-me os primeiros acordes no violão, a dirigir, repreendeu-me por notas baixas, deixou-me ganhar partidas de tênis, deu-me banho quando quebrei a perna, levou-me pela primeira vez ao estádio do nosso time do coração.

Dias em que podíamos dormir juntos no plantão.

Assobio ao chegar em casa.

Lembranças com emoção.

Completo em todos os sentidos.

És sábio, e teus ensinamentos sanam minhas dúvidas.

Que a vida nos reserve muitas pescarias...

Amo-te.

Aproveitem seus pais.

Guilherme de M. Trindade

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Acasos do coração....

Domingo de manhã chuvosa na capital gaúcha, saio de casa a procura de uma erva mate para cevar um chimarrão...

Para minha surpresa, na padaria ao lado do edifício onde resido, além da erva, encontro um velho amigo da família, Dr. Rogério, e sua esposa.

Estimado cardiologista de São Borja, contou-me que havia parado ali para tomar um café.

Despedimo-nos.

Deixei a padaria pensando na coincidência de nosso encontro.

Antes de alcançar o portão de meu prédio, o transeunte que andava à minha frente leva a mão ao peito e estatela-se aos meus pés.

Um milésimo de segundo foi o tempo que demorei em assimilar a cena que se projetava, e como um sussurro, veio-me o nome:

-Dr. Rogério.

Corri os poucos metros que me separavam da padaria, e entrei solicitando ajuda, que fora prontamente atendida pelo cardiologista, que abandonara sua esposa e café, adentrando na chuva para reanimar o “paciente”.

Massagem cardíaca.

Via-se a sombra da morte cruzar por ali.

Chuva e massagem cardíaca.

Algo em torno de 20 minutos foi o tempo que levara até que a primeira ambulância chega-se ao local.

Curiosos, chuva e massagem cardíaca.

Com a chegada do socorro, muito agradecido, e completamente sem jeito despedi-me do Dr., ao passo que a equipe levava o corpo na tentativa de reanima-lo dentro da ambulância.

E assim, molhado, pude cevar meu chimarrão, e voltei a pensar nos acasos e descasos, e pude concluir:

Coincidência ou não, em uma cidade de quase 2 milhões de habitantes, encontro um amigo de minha cidade natal, que fica a 600km de distância do local onde sucederam-se os fatos, que parou para tomar seu café justamente na padaria ao lado de onde moro, numa manhã em que acabara minha erva mate, fato este que levou-me até a mesma padaria, sendo que no caminho de volta um pedestre sofre uma parada cardíaca e aos meus pés passa a agonizar.

Quase me esqueço de um detalhe importante, este amigo é cardiologista.

Em suma, tudo fora arquitetado milimétricamente para que uma vida fosse salva.

Na manhã seguinte, ao voltar à padaria, soube, pelo dono, que o socorrido não veio a sobreviver.

Aproveitem as coincidências.
Guilherme de M. Trindade

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Frases para Fernanda...

Se a vida é labirinto
De cinco chegou em segundo,
E um segundo, antes dos cinco,
Fernanda andou no mundo.

A vida, maior dos amores,
Frases ditas com clareza,
Do mesmo sol, vários calores,
Chocolate, sobremesa.

No jardim que se faz dona
Das flores a mais bravia,
Dos cinco, desbravadora,
Fernanda no mundo seguia.

Desejo que todos têm
Meio mulher, meio menina
O choro que poucos vêem
A pilha que não termina

Se a distância é indiferente
Saudade se faz presente
Dos cinco a eloqüente
Fernanda no mundo da gente.


Aproveitem seus aniversários.

Guilherme de M. Trindade

terça-feira, 7 de julho de 2009

Neuroma de Mortom, Sinovite, Bursite e a celebração da vida...

Após dois meses de sofrimento, resolvi por fim aos meus passos doloridos. Marquei uma consulta médica.

Prescreveram-se dois exames conhecidos: Ecografia e Raio-x dos dois pés.

Filhos de pais atuantes na área da saúde, não me assustam os ambientes nosocomiais.

Filas, senhas e salas de espera.

Dentre uma espera e outra, sentou-se ao meu lado, uma jovem acompanhando uma menina cadeirante eivada de deformidades físicas.

As atrofias não me permitiram precisar a idade, mas deduzi se tratar de uma criança, eis que esta chamou a acompanhante de mãe, e com medo questionava a todo instante se não poderiam ir para casa.

Nas filas hospitalares, por só existirem as paisagens brancas dos corredores, não se há nada o que fazer para liquidar o tempo, a não ser ouvir a conversa dos que também ali aguardam seus exames, com seus acompanhantes, e assim, por estar sozinho, acompanhei o carinho daquela mãe para com sua filha deficiente.

Pude ver a filha segurar firme da mão da mãe enquanto se dirigiam ao final do corredor para sala de Raio-x.

Pude vê-la também exclamar triunfante quando deixaram à sala:

- Viu mãe? Eles sabem me pegar. Eles me pegam do mesmo jeito que tu me pegas!

Fui o próximo a ser chamado, e apesar dos nomes assustadores das mazelas em mim diagnosticadas, tirando a dor, nada grave.

Aproveitem suas perfeições.

Guilherme de M. Trindade

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Leituras obrigatórias...

O direito de sonhar (Eduardo Galeano)

Tente adivinhar como será o mundo depois do ano 2000. Temos apenas uma única certeza: se estivermos vivos, teremos virado gente do século passado. Pior ainda, gente do milênio passado.

Sonhar não faz parte dos trinta direitos humanos que as Nações Unidas proclamaram no final de 1948. Mas, se não fosse por causa do direito de sonhar e pela água que dele jorra, a maior parte dos direitos morreria de sede. Deliremos, pois, por um instante. O mundo, que hoje está de pernas para o ar, vai ter de novo os pés no chão.

Nas ruas e avenidas, carros vão ser atropelados por cachorros.

O ar será puro, sem o veneno dos canos de descarga, e vai existir apenas a contaminação que emana dos medos humanos e das humanas paixões.

O povo não será guiado pelos carros, nem programado pelo computador, nem comprado pelo supermercado, nem visto pela TV. A TV vai deixar de ser o mais importante membro da família, para ser tratada como um ferro de passar ou uma máquina de lavar roupas.

Vamos trabalhar para viver, em vez de viver para trabalhar.

Em nenhum país do mundo os jovens vão ser presos por contestar o serviço militar. Serão encarcerados apenas os quiserem se alistar.

Os economistas não chamarão de nível de vida o nível de consumo, nem de qualidade de vida a quantidade de coisas.

Os cozinheiros não vão mais acreditar que as lagostas gostam de ser servidas vivas.

Os historiadores não vão mais acreditar que os países gostem de ser invadidos.

Os políticos não vão mais acreditar que os pobres gostem de encher a barriga de promessas.

O mundo não vai estar mais em guerra contra os pobres, mas contra a pobreza. E a indústria militar não vai ter outra saída senão declarar falência, para sempre.

Ninguém vai morrer de fome, porque não haverá ninguém morrendo de indigestão.

Os meninos de rua não vão ser tratados como se fossem lixo, porque não vão existir meninos de rua. Os meninos ricos não vão ser tratados como se fossem dinheiro, porque não vão existir meninos ricos.

A educação não vai ser um privilégio de quem pode pagar por ela.

A polícia não vai ser a maldição de quem não pode comprá-la.

Justiça e liberdade, gêmeas siamesas condenadas a viver separadas, vão estar de novo unidas, bem juntinhas, ombro a ombro.

Uma mulher - negra - vai ser presidente do Brasil, e outra - negra - vai ser presidente dos Estados Unidos. Uma mulher indígena vai governar a Guatemala e outra, o Peru.

Na Argentina, as loucas da Praça de Maio vão virar exemplo de sanidade mental, porque se negaram a esquecer, em tempos de amnésia obrigatória.

A Santa Madre Igreja vai corrigir alguns erros das Tábuas de Moisés. O sexto mandamento vai ordenar: "Festejarás o corpo". E o nono, que desconfia do desejo, vai declará-lo sacro. A Igreja vai ditar ainda um décimo-primeiro mandamento, do qual o Senhor se esqueceu: "Amarás a natureza, da qual fazes parte". Todos os penitentes vão virar celebrantes, e não vai haver noite que não seja vivida como se fosse a última, nem dia que não seja vivido como se fosse o primeiro.


Eduardo Galeano (1940-) é jornalista e escritor uruguaio. O texto foi publicado no diário argentino Página 12, em 29 de outubro de 1997, com o título "El derecho de soñar".

Aproveitem os sonhos.

Guilherme de M. Trindade

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Músicas para ler!!!

SERES TUPY (Pedro Luis - Pedro Luis e a Parede)

Seres ou não seres
Eis a questão
Raça mutante por degradação

Seu dialeto sugere um som
São movimentos de uma nação
Raps e Hippies
E roupas rasgadas
Ouço acentos
Palavras largadas
Pelas calçadas
Sem arquiteto
Casas montadas, estranho projeto
Beira de mangue, alto de morro
Pelas marquises, debaixo do esporro
Do viaduto, seguem viagem
Sem salvo conduto é cara a passagem
Por essa vida que disparate
Vida de cão, refrão que me bate

De Porto Alegre ao Acre
A pobreza só muda o sotaque


Aproveitem a música.

Guilherme de M. Trindade

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Brasil, o país do futebol...



Acompanhamos ansiosamente pela definição das cidades sedes da Copa do Mundo 2014 que se realizará no Brasil.
Uma fortuna incalculável será investida para construção de novos estádios, além da infra-estrutura necessária para que os turistas levem para casa uma boa impressão de nosso país.
Somente para Porto Alegre, estima-se que em média, para que seja reformado o estádio já existente, a quantia de trezentos milhões de reais.
A pergunta que paira: Estaríamos realmente prontos para sediar o evento?
O presídio central da capital gaúcha (considerado o pior do Brasil) já está com sua capacidade esgotada há décadas, e as escusas para a não ampliação sempre foram as mesmas, a falta de verba.
No mesmo desiderato, tornaram-se corriqueiras as decisões de nossos Magistrados no sentido de manter soltos os infratores, visto ser fisicamente impossível o cárcere destes por falta de espaço. Além do sistema carcerário, outros setores também vão sucumbindo pela desídia de nossos líderes.
Temos mais do que futebol para mostrar aos visitantes, sugiro um “tour” para mostrar de onde sai todo este talento, e o que motiva nossos garotos a buscar esta vida de glamour, fica aí a dica, mas não garantimos a segurança.

Aproveitem a vida....
Guilherme de M. Trindade

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Desastres aéreos e outras mentiras...

O acidente com o avião da Airfrance que vitimou 228 passageiros de vários lugares do globo veio nos reabastecer com assuntos por longa data.

Pelos noticiários, em apenas 2 dias já aprendi tudo sobre tempestades em alto mar, turbulências, sonares, métodos de busca, etc...

É impressionante como a tragédia vende.

Sequer encontraram a aeronave e os jornais já narram em suas páginas os detalhes de como se deu o acidente, enquanto nas ruas as pessoas discutem qual a versão mais verdadeira até então divulgada.

A receita sempre funciona, o negócio é muito lucrativo.

Caindo um avião por ano, sendo uma criança arrastada por assaltantes, ou um parricídio na classe-média, jornais e políticos regozijam-se. Aqueles pelo consumo voraz de um povo louco por tragédias, e, estes, pelo fato de que ao menos por um tempo as investigações não serão mais dirigidas a eles.

Os tablóides desrespeitam a privacidade e o momento de dor dos familiares que choram pelos seus.

Com a devida vênia, fico mais chateado ao saber que uma fortuna incalculável está sendo gasta para descobrir o óbvio, qual seja, que um avião caiu e 228 pessoas perderam a vida.

De nada adiantará saber se o motivo foi pane, tempestade ou falha humana.

Infelizmente, não há o que se possa fazer fazer para amenizar as perdas, mas muito se pode para ajudar os que ainda vivem, ou melhor sobrevivem.

Aproveitem as boas notícias.
Guilherme de M. Trindade

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Poemas sem pretensão...

Distância

Veja aquela estrela no infinito
O quão longe ela está de mim?
Pode até parecer bonito
Pode ser que seja belo
Mas de que me serve
Se não a posso tocá-la

Veja você agora
O quão longe estás de mim?
Brilhas como uma estrela
Para mim também vives como ela
E por seres tão bela
Também não me deixas tocar

Distância é aquilo que se percorre.
Se tu estivesses onde está aquela etrela
Com grande destreza eu iria até ela
E sentado ao teu lado vendo o caminho feito
Parecer-me-ia pequeno, insignificante
Tal como é aquilo em que não se toca, que se faz distante

Como é grande o amor de quem ama
E como ficou grande a cama onde não mais dormes
Penso que deveríamos ser como a brasa e a chama
Inseparáveis... onde sem tu eu não viva
E sem a minha tu morres.

Guilherme de M. Trindade (inverno de 2006)

Aproveitem a poesia...

sábado, 23 de maio de 2009

Disneylândia...

Filho de imigrantes russos casado na Argentina
Com uma pintora judia,
Casou-se pela segunda vez
Com uma princesa africana no México

Música hindú contrabandiada por ciganos poloneses faz sucesso
No interior da Bolívia zebras africanas
E cangurus australianos no zoológico de Londres.
Múmias egípcias e artefatos íncas no museu de Nova York

Lanternas japonesas e chicletes americanos
Nos bazares coreanos de São Paulo.
Imagens de um vulcão nas Filipinas
Passam na rede dc televisão em Moçambique

Armênios naturalizados no Chile
Procuram familiares na Etiópia,
Casas pré-fabricadas canadenses
Feitas com madeira colombiana
Multinacionais japonesas
Instalam empresas em Hong-Kong
E produzem com matéria prima brasileira
Para competir no mercado americano

Literatura grega adaptada
Para crianças chinesas da comunidade européia.
Relógios suiços falsificados no Paraguay
Vendidos por camelôs no bairro mexicano de Los Angeles.
Turista francesa fotografada semi-nua com o namorado árabe
Na baixada fluminense

Filmes italianos dublados em inglês
Com legendas em espanhol nos cinemas da Turquia
Pilhas americanas alimentam eletrodomésticos ingleses na Nova Guiné

Gasolina árabe alimenta automóveis americanos na África do Sul.
Pizza italiana alimenta italianos na Itália

Crianças iraquianas fugidas da guerra
Não obtém visto no consulado americano do Egito
Para entrarem na Disneylândia.



Esta canção foi composta em 1983 por Arnaldo Antunes, e gravada no álbum Titanomáquina, dos Titãs. Se não soubessemos o ano da composição, diríamos tratar-se de um novo hit da banda.

Aproveitem a música...

Guilherme de M. Trindade

segunda-feira, 18 de maio de 2009

O silêncio que ensurdece o vagão...

Neste mês de maio completo um ano de idas e voltas ao Vale dos Sinos.
Para os que pouco, ou nada me conhecem, resido em Porto Alegre, porém deixo meu suor para prover o sustento na cidade de São Leopoldo/RS, a 45 km da capital gaúcha.

Valho-me do trem para percorrer o trajeto, não sei se por economia, consciência ecológica, ou para burlar os congestionamentos que já são rotina na 116.
Por estar a um ano, na mesma estação, na mesma hora, seja nas manhãs para ir, ou nas tardes para voltar, vou fazendo os rostos dos companheiros de percurso de certa forma familiares.
Gosto, como meio de distração, de procurar nos vagões, pessoas nas quais já compartilharam aquele espaço físico e temporal comigo outras vezes, mesmos sem jamais haver trocado um aceno com a cabeça.
De todos os passageiros, cumpre que um sempre se faz presente, tanto na ida como na volta.
O silêncio.
Diz-se, na ida, do silêncio do povo ainda cansado da labuta do dia anterior, que por mais um dia tem de se lançar na selva para buscar proventos, tendo que deixar os seus na segurança de um lar quase sempre sem segurança.
Na volta, o povo que não dorme também não fala, o dia foi longo, e a viagem também será.
O silêncio da massa é sem dúvida uma das sensações mais angustiantes. Digo isto, porque uso o coletivo como opção, e gozo do tempo para fazer estas observações.
Gosto da comparação de que o povo se deslocando junto lembra o gado, todo dia reunido, caminhando em direção ao matadouro, pois este é o jeito que o patrão exige que seja.
Do outro lado, o patrão, também conhecido como sistema, e, aqui, valho-me das palavras de Galeano, pagando salários africanos cobrando impostos europeus.
Acredito que o silêncio sobre os trilhos seja o silêncio abafado pelo barulho dos que mais podem com relação aos que menos tem, e assim comungo junto deste momento, e, de olhos fechados também viajo silente.

Aproveitem o silêncio...

Guilherme de M. Trindade

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Cri-cri, O Grilo Gaudério...





Nasci em 1985, e, por óbvio, não tenho na memória imagens formadas antes de meus cinco anos, com exceção de algumas mais marcantes.

Dentre estas, recordo-me de quando podíamos dormir na cama com meu pai, e ele lia alguns livros infantis para embalar o sono meu e de meu irmão, até então os mais novos da casa (minha irmã mais nova veio a nascer anos mais tarde).

O meu preferido sempre foi um que se intitulava Cri-cri, o Grilo Gaudério, na qual um grilo bom de rima desafiava a todos para um bom duelo.

A fantasia deste grilo pilchado embalou meus sonos de criança, com boa prosa e versos inteligentíssimos.

Pois bem, passou-se muito tempo, as crianças cresceram, e o livro provavelmente fora esquecido em alguma prateleira para a sorte de alguma traça.

O que me traz a memória este episódio, foi o fato de que no primeiro que show que assisti, do músico Raul Ellwanger, no Sarau da Assembléia, em Porto Alegre, subira ao palco, para acompanhá-lo, o renomado músico e compositor Jerônimo Jardim, autor de obras-primas como “Moda de Sangue”, mais tarde gravada por Elis Regina e “Purpurina”, interpretada por Lucinha Lins, dentre outros diversos sucessos nacionais também da autoria de Jerônimo.

Para minha sorte, fomos apresentados, e com um breve aperto de mão sabia que havia ganhado a noite, pois além de assistir um show grandioso do Raul, de quebra ainda conheci dois, dos maiores ícones da música popular brasileira.

Encontrei-me novamente com Jerônimo na Festa do Dourado, que ocorre uma vez por ano na fazenda de propriedade do também músico Renato Borghetti, e desta vez pude gozar de dois dias na companhia de meu novo ídolo, onde compartilhamos da mesma sombra, da mesma conversa e do mesmo violão.

Esta semana, navegando pela web, ancorei minha nau virtual no site do Jerônimo (http://www.jeronimojardim.com/), e ali fiz várias descobertas acerca do músico, tais como os festivais vencidos, outras composições ao qual o músico participara, apresentações, bem como os livros publicados.

O que me faz escrever isto tudo, é que um dos livros publicados, havia um que se chamava Cri-cri, o Grilo Gaudério.

Ao ler o título, vieram à tona estas íntimas e bem escondidas lembranças de infância.

Jamais imaginei que meu livro favorito quando criança, tivesse sido escrito por Jerônimo Jardim, aliás, tomei conhecimento que Jerônimo Jardim possuía livros publicados ao perlustrar a página virtual do músico.

Coincidência ou não, acompanho a carreira de Jerônimo desde criança, mesmo sem saber, e a sorte quis que o encontrasse vinte anos mais tarde, porém não como fã de um escritor de livros infantis, mas como fã de um dos maiores compositores da música brasileira.

Aproveitem a música e a literatura...

Guilherme de M. Trindade

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Minha mãe...

Ariane me deu vida, não somente ao nascer, mas a cada instante após. Mulher que nunca precisou mais do que o necessário. Que soube distribuir de forma igual o amor aos cinco filhos. Fonte inesgotável de sabedoria e afeto. Pessoa ímpar.

Das dores do parto aos primeiros passos, do primeiro dia na escola a formatura, do primeiro amor ao primeiro beijo, da pior das derrotas a maior das vitórias, dos sonhos e das idéias loucas, da ética e da moral, do que foi e do que vier, sempre viveu e viverá por mim, sem clamar domingos ou feriados.

É indescritível, sem demagogias, transmite bondade pelo olhar.

Mãe...obrigado pelos pés no chão... e por me fazer voar...

Aproveitem suas mães...

Guilherme de M. Trindade

terça-feira, 5 de maio de 2009

Atores principais, coadjuvantes e figurantes...

Domingo passado encontrei-me com dois amigos de infância para assistirmos um vídeo gravado em uma câmera amadora de oito milímetros, feito por nós, onde registramos, em 2002, nosso dia-a-dia no último ano escolar.

Interessante, é que nestes sete anos, nenhum de nós havia visto o vídeo, o que veio a tornar esta, uma das sessões de cinema mais engraçada de nossas vidas.

Mudanças físicas, penteados de cabelo, além da moda inerente a época, provocaram-nos dores musculares devido ao excesso da felicidade que transbordava em formato de risadas.

O que chamou a atenção, é que éramos apenas três de todos os colegas que apareciam, e que haviam iniciado aquela caminhada conosco. Onde andariam? Preservaram amizade com alguém da turma, assim como nós? Ingressaram no curso superior? Concluíram? Casaram? Filhos?

Notícias tinham-mos de poucos, mas a grande maioria não lembrávamos o nome, ou ainda, sequer recordávamos que haviam sido nossos colegas.

Estranha sensação esta, de que certas pessoas existam para serem apenas figurantes no filme de nossas vidas, seja na sala de aula, no trem ou na fila do banco. Pessoas que talvez cruzaremos esta única vez, e que pouco nos importa a película que cada uma delas estrela.

Podemos também, chamar de coadjuvantes aqueles que fizeram participações marcantes , como no caso, para mim, os amigos que também assistiam ao filme comigo, uma vez que preservamos a amizade e mantemos contato, ou ainda, em outras palavras, contracenaram mais vezes comigo pelos palcos da vida.

E assim se desenrola o filme de cada um, surgindo novos atores com nenhuma, ou alguma fala, ao qual pouco, ou nada se sabe sobre eles, ou eles de nós, e, desta forma, também viramos os figurantes, ou coadjuvantes na vida dos que são coadjuvantes ou figurantes na nossa.

Aproveitem a vida...

Guilherme de M. Trindade

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Encontros...


Segunda-feira, mensagem nova na caixa de e-mails. Joca me chama feliz, e diz que Aurélio, sujeito completamente desconhecido por nós, está promovendo um encontro beneficente de tocadores de harmônica em Lomba Grande, distrito de Novo Hamburgo/RS, e que nós seríamos uma das atrações da festa.
Sexta-feira, a semana correu sem notícias de Aurélio, até o final do expediente, quando me avisa Joca que Aurélio ligara, e que o evento começaria dentro de duas horas, e mais, que nossa presença tornaria o mesmo completo. Saímos às pressas. Arranjei um violão emprestado para acompanhar a harmônica de Joca, e no estado em que nos encontrávamos, rumamos para Lomba Grande sem conhecimento algum do que estaria a nos esperar.
Lá, deparamo-nos com um galpão imenso, porém muito simples, ao lado de uma velha igreja, ao qual se lia na entrada: “Comunidade Evangélica de Lomba Grande”.
Não lembro de em outros lugares uma receptividade tão gostosa.
Fizemos uma apresentação em que a música não se parecia com música, mas mágica pura. Tocamos para uma platéia que também nos tocou com sua candura e solidariedade.
Ao final, aplausos calorosos. Emocionados, todos queriam cumprimentar-nos.
Sentamos para assistir as demais apresentações, quando reparei que uma senhora não havia desviado o olhar de mim. Fui até ela.
Eu te conheço de algum lugar – me disse, ao passo que respondi – eu também te conheço.
Conversamos e contei-lhe que era natural de São Borja/RS, e para minha surpresa, tínhamos alguns amigos em comum.
Tempos depois, vim a descobrir que ela e minha mãe haviam sido amigas e confidentes na época da faculdade.
Comentem e aproveitem a vida...
Guilherme de M. Trindade

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Façamos nossa própria revolução...


Sempre gostei de ir ao cinema, e dentre muitos de meus desejos é que das voltas que o globo dá, meu hábito de prestigiar a sétima arte seja preservado.
Como programa dominical fui a um dos cinemas da capital gaúcha para assistir a primeira parte do lançamento Che (a segunda será lançada em junho/julho).
Apologias sobre as divergências ideológicas à parte, deve ser mencionada a riqueza do conteúdo histórico que as imagens nos trazem aos olhos.
Che, ao lado de Fidel Castro reservaram na história contemporânea um lugar ao sol dentre os fatos mais marcantes. O filme confunde-se com documentário, e mostra um Che áspero e rude, mas sem perder a ternura jamais.
Não aceitava como guerrilheiros os que não soubessem ler e escrever.
Um homem que não sabe ler nem escrever é um homem fácil de ser enganado, dizia.
Lutou pela libertação de Cuba e pelas garantias da coletividade, principalmente no tocante a igualdade de oportunidades. Prometeu antes da guerrilha, que após a vitória nas ilhas caribenhas lutaria até a morte pela libertação dos demais países latino-americanos, e assim cumpriu.
Ernesto Che Guevara, jovem, argentino, médico, driblou os problemas de saúde que a vida lhe presenteara ao nascer, para aos trinta anos de idade conquistar a nação cubana e derrubar um presidente corrupto, evitando que Cuba se tornasse mais um bordel norte-americano no mar do Caribe.
Reitera-se, ideologias à parte, devemos conservar nosso espírito guerrilheiro, promovendo nossas pequenas revoluções diárias, mesmo que as mais íntimas e particulares, sejam elas contra a corrupção, o mau-caratismo, a burocracia, a ignorância, o analfabetismo, a intolerância ou até mesmo contra a preguiça.
Não precisamos de mais um mártir para nos ensinar a lutar, a história já está repleta deles.

Comentem...e aproveitem a vida....
Guilherme de M. Trindade

sábado, 25 de abril de 2009

Emílio Damasceno...mestre das Harmônicas




Conheci Emílio Damasceno de uma forma inusitada. Tenho como hábito, todas as quintas-feiras, à noite, dedilhar meu violão em companhia do amigo, colega e artista João Cacildo, o Joca, que com muita sensibilidade tira sons em uma Harmônica alemã.
Numa destas quintas, após várias canções, regadas a cuias de chimarrão e boa conversa, por descuido meu, foi ao solo o tão estimado instrumento musical de meu parceiro. A tristeza subiu-me ao peito, e apertou-me a garganta, ao ver que a gaita precisaria de manutenção, eis que a embocadura havia se desprendido do corpo. Sensibilizado com a minha insistência em levar o instrumento para o conserto, anotou-me o telefone de um sujeito chamado Emílio, que depois do contato telefônico, e algumas informações, rumei a sua residência.
Chegando lá, fui recebido pelo próprio. Tratava-se de um senhor que aparentava seus oitenta e cinco anos, aos quais depois vim a descobrir que foram quase todos dedicados a gaita de boca.
Após um aperto de mão já percebi que era bom de papo. Levou-me para a pequena sala onde passava grande parte do dia, empenhado sempre na manutenção das harmônicas.
Pelas paredes, fotografias e recortes de jornais e revistas da década de cinqüenta e sessenta, onde facilmente se reconhecia o jovem e belo Emílio Damasceno, integrante do Trio Harmônico, conjunto que alcançou sucesso nacional naquela época, e que possuía como integrantes, além de Emílio, seu irmão Ênio Damasceno e Jeovah Tavares, hoje conhecido como Jeovah da Gaita.
Assim, o que seria uma visita de um desesperado, de um paciente em busca da cura, tornou-se uma agradabilíssima surpresa. Falamos daqueles tempos, da fama, de música, e, ainda, tive a felicidade de ouvir seus discos e suas estórias.
Visitei-lhe outras vezes, e na última visita, levei-lhe uma outra gaita também de meu companheiro musical Joca, para que lhe desse a manutenção. Dias mais tarde telefonou e informou que sua esposa e companheira inseparável ao longo da vida, aos oitenta e quatro anos, encontrava-se em delicadíssimo estado de saúde, mas que a gaita estava pronta e fora afinada na companhia da mulher, que ao lado aguardava a menos esperada das visitas.
Acho que esta será a última gaita que ela me ouve afinar. Disse-nos.
Comentem no blog e aproveitem a vida...até sempre....
Guilherme de M. Trindade

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Primeira postagem...


É com imensa alegria que hoje inauguro o blog CARPE SOMNIU. Palavras originadas do latim ao qual se traduz aproveite o sonho, a utopia, a fantasia. Enfim, é o canto em que escolhi para depositar sentimentos variados como amor, ódio, altruísmo, egoísmo, tristezas, felicidades etc. A idéia original é falar da vida, e como ela se mostra, seja através de um bom filme, de uma notícia ruim, talvez daquela música suave aos ouvidos que a primeira vez lhe escutam, ou, ainda, da paisagem que não havíamos percebido, embora passássemos todos os dias por aquele lugar. Falar sem pretensões, como o sujeito que escreve no diário para que somente ele leia, pois o intuito é apenas o de dizer algo, mesmo que seja vazio em sua plenitude. Jogar com as palavras, descrevendo o que se vê ao espiar pela fechadura do universo.

Como primeiro post, gostaria de falar sobre a imagem escolhida como logo do blog. Trata-se de uma foto tirada pelo músico e compositor Raul Ellwanger, ao pôr-do-sol às margens do rio Uruguai, em São Borja/RS, minha terra natal, num daqueles finais de semanas que deixam saudades, e que poderíamos perfeitamente chamá-los de mágicos, mas deixarei, quem sabe, para discorrer sobre ele futuramente aqui. Corroborando, escolhi esta imagem não apenas pela beleza que solta aos olhos, mas pelo fato de que ao vê-la sinto-me mais perto de casa, bem como, daqueles que amo e por lá ficaram.

Espero que gostem do blog, teçam comentários e aproveitem a vida...até sempre....

Guilherme de M. Trindade