segunda-feira, 18 de maio de 2009

O silêncio que ensurdece o vagão...

Neste mês de maio completo um ano de idas e voltas ao Vale dos Sinos.
Para os que pouco, ou nada me conhecem, resido em Porto Alegre, porém deixo meu suor para prover o sustento na cidade de São Leopoldo/RS, a 45 km da capital gaúcha.

Valho-me do trem para percorrer o trajeto, não sei se por economia, consciência ecológica, ou para burlar os congestionamentos que já são rotina na 116.
Por estar a um ano, na mesma estação, na mesma hora, seja nas manhãs para ir, ou nas tardes para voltar, vou fazendo os rostos dos companheiros de percurso de certa forma familiares.
Gosto, como meio de distração, de procurar nos vagões, pessoas nas quais já compartilharam aquele espaço físico e temporal comigo outras vezes, mesmos sem jamais haver trocado um aceno com a cabeça.
De todos os passageiros, cumpre que um sempre se faz presente, tanto na ida como na volta.
O silêncio.
Diz-se, na ida, do silêncio do povo ainda cansado da labuta do dia anterior, que por mais um dia tem de se lançar na selva para buscar proventos, tendo que deixar os seus na segurança de um lar quase sempre sem segurança.
Na volta, o povo que não dorme também não fala, o dia foi longo, e a viagem também será.
O silêncio da massa é sem dúvida uma das sensações mais angustiantes. Digo isto, porque uso o coletivo como opção, e gozo do tempo para fazer estas observações.
Gosto da comparação de que o povo se deslocando junto lembra o gado, todo dia reunido, caminhando em direção ao matadouro, pois este é o jeito que o patrão exige que seja.
Do outro lado, o patrão, também conhecido como sistema, e, aqui, valho-me das palavras de Galeano, pagando salários africanos cobrando impostos europeus.
Acredito que o silêncio sobre os trilhos seja o silêncio abafado pelo barulho dos que mais podem com relação aos que menos tem, e assim comungo junto deste momento, e, de olhos fechados também viajo silente.

Aproveitem o silêncio...

Guilherme de M. Trindade

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