Hoje me flagrei que nossas idades nos ultrapassam.
Olhando pra trás me descobri prisioneiro do passado.
Não consigo me desapegar de nossa infância. Dos almoços de mesa cheia, das brigas e dos perdões (mais brigas do que perdões).
Não consigo me desapegar de quando tomavas conta de nós. Das torradas com orégano e das gemadas. De quando acobertava alguns pecados escolares e, de quando no auge de minha rebeldia me levaste para furar a orelha.
Parece que há poucos dias atrás viajamos escondidos. Lembro-me que ainda ontem me ensinaste o que fazer no meu primeiro dia na faculdade.
Creio que por ainda viver destas lembranças, é que o tempo me pegou desprevenido e, a saudade destas grandes pequenezas não admite a imagem da figura adulta que vemos no espelho, mesmo que o tempo não nos tenha sido um algoz implacável.
Alcançaste o esplendor da tua condição. E mesmo que não passem de tolices, continuas refém de minhas lembranças. Está intrínseco em nossa existência que provarás muitos sabores antes de mim e, caberá a nós mantermos viva a memória para que possamos viver o presente em nossos reencontros de mesa cheia.
Continues sendo essencial para nós.
Guilherme de M. Trindade