sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Fracasso "lato sensu"

Amanhã completo meio cinqüentenário de vida! Há quem diga que com tão ínfima existência poucas conclusões são passíveis de abstração.

Todavia, o sentimento que me permeia é o do fracasso lato sensu. Poderão àqueles suscitar que se trata da “crise do meio cinqüentenário”. Discordo.

Minha justificativa bebe na fonte da teoria de que em 25 anos de vida já adquirimos tempo suficiente para a realização de grandes feitos.

Corroborando, Alexandre, o Grande, com 25 anos de idade já havia conquistado um império que se estendia da Grécia ao Rio Indo. Bill Gates, com 19 anos já havia fundado a Microsoft. Os integrantes dos Beatles, com bem menos de 25, já eram mais populares que Jesus Cristo, sendo que o próprio Cristo, até os 12 obrigou-se ao exílio no Egito para refugiar-se das empreitadas de Herodes que mobilizara o antigo mundo para matá-lo. Isto para ficar “só” nestes exemplos.

No mesmo ínterim, meu fracasso é notável, senão vejamos: não conquistei territórios, com exceção de um apartamento de pouco mais de 40m² onde um contrato locatício me outorga poderes sobre o mesmo. Não inventei nada que pudesse revolucionar o mundo e, tão pouco descobri a cura de uma moléstia sem cura. Não compus uma canção boa o suficiente embalar paixões. Não dei a volta ao mundo. Não tenho uma Ferrari. Não virei astronauta e nem fui um exímio jogador de futebol. Não fui pra guerra. Não chorei assistindo “E o vento levou”. Não sou milionário. Não escrevi um livro, jamais plantei uma árvore, não casei e não tenho filhos. Sequer sou procurado pela polícia!

Sou apenas mais um “mortal” que trabalha para sobreviver, e não alguém que vive para trabalhar.

Num cativeiro (mundo) onde a falta de tempo é a atriz principal do filme da vida, nossas vontades quedam por acostumar-se com o papel de coadjuvante e, via de regra, a necessidade de viver todos os dias sob a mira das preocupações (ser moral, comer, vestir e sentir-se vivo), faz com que nossas escolhas nem sempre se mostrem alavancadoras de uma vida repleta de grandes feitos. E lá se vão 25 anos.

Não tenho por objetivo elevar meu pessimismo ao nível de Schopenhauer ou Friedrich Nietzsche, mas tão somente buscar uma reflexão de o porquê e pelo quê parabenizamos as pessoas pelos seus nascimentos. Todos seriam, de fato, dignos de tal homenagem? Creio/temo que não.

Assim, no dia 18 de setembro, cada “parabéns a você” a mim dirigido trará incutida a seguinte reflexão “Parabéns pelo quê?”. Visando superá-la, proponho-me lutar no sentido de não continuar sendo um fracasso. Para tanto, terei de viver mais os próximos 25 anos.

Aproveitem as reflexões.

Guilherme de M. Trindade