quinta-feira, 8 de abril de 2010

"Ladainha para o Zé"


Como de costume, há 39 semanas santas, homens de todo o sul, e, porque não dizer, de todo o Brasil, reúnem-se às margens do Rio Uruguai para celebrar a música, a natureza, e, acima de tudo a amizade.

Fundador do Festival da Barranca, Zé Bicca, ou, o Tio Zé, que por capricho da sina ausentou-se, ao menos carnalmente, pela primeira vez não pode escusar-se das homenagens.

Assim, posto hoje um poema de Tadeu Martins, declamado no 39º Festival da Barranca, e que ilustra bem a figura deste “homem-Bicca”, ao qual este blog não se cansa de reverenciar.

“Ladainha para o Zé” (Tadeu Martins)

Veja bem, Pai-Véio
Quem chega de volta a teu convívio.
Sim, aquele que carrega um rio no olho
A terra no sangue
Uma crônica no causo
E o coração balançado de amigos
Sim, aquele mesmo
Que tinha nos fundos de casa
Uma fábrica de bondade
Um engenho mecânico
De fazer motores e geringonças.
Um doutor psicólogo
De fazer salvamentos
E um criador musical...
Quando pegava uma música
Soltava pássaros.
Um pai-espelho
Um marido-par.
Aquele
Que fabricou um lobisomem
Para ser o seu andante.
Aquele
Que fazia um beijo
Para cada rosto dos homens.
Depois recolhia abraços
Como quem guarda uma safra
Onde o cheiro da esperança fica nas mãos.
Aquele homem-anjo
Que visitava os mortos a serviço da vida.
E que nos visitará com a mensagem:
- Se apresente para a palavra amor.
- O homem para ser sábio
De vez em quando
Deve dar um corridão no corpo
Aí, a alma nesse momento
Aproveitará para mostrar a essência das coisas
Aquele mesmo, Pai-Véio
Que esperou a morte
Como quem espera um poema
Para ir-se encarregado de plantar um rancho
Num rincão invisível
E pendurar na porteira:
É o amor que dá paz aos homens,
A calma ao mar,
O silêncio aos ventos
E o descanso a dor”
Aquele mesmo, Pai-Véio
Homem livre e de bons costumes
Que carregava a caridade nos pulsos
Aquele da São Borja cor de terra
Que tem um rio profeta
E um céu bem grande
Aquele que tem o prazer
Do seu nosso mate
Do seu nosso vinho
E do seu nosso comício
Aquele homem-bica
Que matava nossa sede de respostas
Mas cuidado, Pai-Véio
Que agora ele para tudo para ser discreto
Dizendo por aí
Apenas sou o Zé.

Aproveitem a poesia.

Guilherme de M. Trindade