sábado, 25 de abril de 2009

Emílio Damasceno...mestre das Harmônicas




Conheci Emílio Damasceno de uma forma inusitada. Tenho como hábito, todas as quintas-feiras, à noite, dedilhar meu violão em companhia do amigo, colega e artista João Cacildo, o Joca, que com muita sensibilidade tira sons em uma Harmônica alemã.
Numa destas quintas, após várias canções, regadas a cuias de chimarrão e boa conversa, por descuido meu, foi ao solo o tão estimado instrumento musical de meu parceiro. A tristeza subiu-me ao peito, e apertou-me a garganta, ao ver que a gaita precisaria de manutenção, eis que a embocadura havia se desprendido do corpo. Sensibilizado com a minha insistência em levar o instrumento para o conserto, anotou-me o telefone de um sujeito chamado Emílio, que depois do contato telefônico, e algumas informações, rumei a sua residência.
Chegando lá, fui recebido pelo próprio. Tratava-se de um senhor que aparentava seus oitenta e cinco anos, aos quais depois vim a descobrir que foram quase todos dedicados a gaita de boca.
Após um aperto de mão já percebi que era bom de papo. Levou-me para a pequena sala onde passava grande parte do dia, empenhado sempre na manutenção das harmônicas.
Pelas paredes, fotografias e recortes de jornais e revistas da década de cinqüenta e sessenta, onde facilmente se reconhecia o jovem e belo Emílio Damasceno, integrante do Trio Harmônico, conjunto que alcançou sucesso nacional naquela época, e que possuía como integrantes, além de Emílio, seu irmão Ênio Damasceno e Jeovah Tavares, hoje conhecido como Jeovah da Gaita.
Assim, o que seria uma visita de um desesperado, de um paciente em busca da cura, tornou-se uma agradabilíssima surpresa. Falamos daqueles tempos, da fama, de música, e, ainda, tive a felicidade de ouvir seus discos e suas estórias.
Visitei-lhe outras vezes, e na última visita, levei-lhe uma outra gaita também de meu companheiro musical Joca, para que lhe desse a manutenção. Dias mais tarde telefonou e informou que sua esposa e companheira inseparável ao longo da vida, aos oitenta e quatro anos, encontrava-se em delicadíssimo estado de saúde, mas que a gaita estava pronta e fora afinada na companhia da mulher, que ao lado aguardava a menos esperada das visitas.
Acho que esta será a última gaita que ela me ouve afinar. Disse-nos.
Comentem no blog e aproveitem a vida...até sempre....
Guilherme de M. Trindade

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Emilio Damasceno está entre os poucos Luthiers especializados em Harmonicas do Brasil. Essa é uma profissão que vem crescendo, assim como o instrumento, que vem sendo cada vez mais difundido.

    Espero que o Emilio ainda esteja consertando gaitas de boca e desejo-lhe muita saúde e sucesso! Sou conhecido de Jehovah da Gaita. Fomos endorsees da mesma fábrica de gaitas brasileira, a Bends Harmônicas, que muito fez pelo instrumento no Brasil!

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