quinta-feira, 28 de maio de 2009

Poemas sem pretensão...

Distância

Veja aquela estrela no infinito
O quão longe ela está de mim?
Pode até parecer bonito
Pode ser que seja belo
Mas de que me serve
Se não a posso tocá-la

Veja você agora
O quão longe estás de mim?
Brilhas como uma estrela
Para mim também vives como ela
E por seres tão bela
Também não me deixas tocar

Distância é aquilo que se percorre.
Se tu estivesses onde está aquela etrela
Com grande destreza eu iria até ela
E sentado ao teu lado vendo o caminho feito
Parecer-me-ia pequeno, insignificante
Tal como é aquilo em que não se toca, que se faz distante

Como é grande o amor de quem ama
E como ficou grande a cama onde não mais dormes
Penso que deveríamos ser como a brasa e a chama
Inseparáveis... onde sem tu eu não viva
E sem a minha tu morres.

Guilherme de M. Trindade (inverno de 2006)

Aproveitem a poesia...

sábado, 23 de maio de 2009

Disneylândia...

Filho de imigrantes russos casado na Argentina
Com uma pintora judia,
Casou-se pela segunda vez
Com uma princesa africana no México

Música hindú contrabandiada por ciganos poloneses faz sucesso
No interior da Bolívia zebras africanas
E cangurus australianos no zoológico de Londres.
Múmias egípcias e artefatos íncas no museu de Nova York

Lanternas japonesas e chicletes americanos
Nos bazares coreanos de São Paulo.
Imagens de um vulcão nas Filipinas
Passam na rede dc televisão em Moçambique

Armênios naturalizados no Chile
Procuram familiares na Etiópia,
Casas pré-fabricadas canadenses
Feitas com madeira colombiana
Multinacionais japonesas
Instalam empresas em Hong-Kong
E produzem com matéria prima brasileira
Para competir no mercado americano

Literatura grega adaptada
Para crianças chinesas da comunidade européia.
Relógios suiços falsificados no Paraguay
Vendidos por camelôs no bairro mexicano de Los Angeles.
Turista francesa fotografada semi-nua com o namorado árabe
Na baixada fluminense

Filmes italianos dublados em inglês
Com legendas em espanhol nos cinemas da Turquia
Pilhas americanas alimentam eletrodomésticos ingleses na Nova Guiné

Gasolina árabe alimenta automóveis americanos na África do Sul.
Pizza italiana alimenta italianos na Itália

Crianças iraquianas fugidas da guerra
Não obtém visto no consulado americano do Egito
Para entrarem na Disneylândia.



Esta canção foi composta em 1983 por Arnaldo Antunes, e gravada no álbum Titanomáquina, dos Titãs. Se não soubessemos o ano da composição, diríamos tratar-se de um novo hit da banda.

Aproveitem a música...

Guilherme de M. Trindade

segunda-feira, 18 de maio de 2009

O silêncio que ensurdece o vagão...

Neste mês de maio completo um ano de idas e voltas ao Vale dos Sinos.
Para os que pouco, ou nada me conhecem, resido em Porto Alegre, porém deixo meu suor para prover o sustento na cidade de São Leopoldo/RS, a 45 km da capital gaúcha.

Valho-me do trem para percorrer o trajeto, não sei se por economia, consciência ecológica, ou para burlar os congestionamentos que já são rotina na 116.
Por estar a um ano, na mesma estação, na mesma hora, seja nas manhãs para ir, ou nas tardes para voltar, vou fazendo os rostos dos companheiros de percurso de certa forma familiares.
Gosto, como meio de distração, de procurar nos vagões, pessoas nas quais já compartilharam aquele espaço físico e temporal comigo outras vezes, mesmos sem jamais haver trocado um aceno com a cabeça.
De todos os passageiros, cumpre que um sempre se faz presente, tanto na ida como na volta.
O silêncio.
Diz-se, na ida, do silêncio do povo ainda cansado da labuta do dia anterior, que por mais um dia tem de se lançar na selva para buscar proventos, tendo que deixar os seus na segurança de um lar quase sempre sem segurança.
Na volta, o povo que não dorme também não fala, o dia foi longo, e a viagem também será.
O silêncio da massa é sem dúvida uma das sensações mais angustiantes. Digo isto, porque uso o coletivo como opção, e gozo do tempo para fazer estas observações.
Gosto da comparação de que o povo se deslocando junto lembra o gado, todo dia reunido, caminhando em direção ao matadouro, pois este é o jeito que o patrão exige que seja.
Do outro lado, o patrão, também conhecido como sistema, e, aqui, valho-me das palavras de Galeano, pagando salários africanos cobrando impostos europeus.
Acredito que o silêncio sobre os trilhos seja o silêncio abafado pelo barulho dos que mais podem com relação aos que menos tem, e assim comungo junto deste momento, e, de olhos fechados também viajo silente.

Aproveitem o silêncio...

Guilherme de M. Trindade

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Cri-cri, O Grilo Gaudério...





Nasci em 1985, e, por óbvio, não tenho na memória imagens formadas antes de meus cinco anos, com exceção de algumas mais marcantes.

Dentre estas, recordo-me de quando podíamos dormir na cama com meu pai, e ele lia alguns livros infantis para embalar o sono meu e de meu irmão, até então os mais novos da casa (minha irmã mais nova veio a nascer anos mais tarde).

O meu preferido sempre foi um que se intitulava Cri-cri, o Grilo Gaudério, na qual um grilo bom de rima desafiava a todos para um bom duelo.

A fantasia deste grilo pilchado embalou meus sonos de criança, com boa prosa e versos inteligentíssimos.

Pois bem, passou-se muito tempo, as crianças cresceram, e o livro provavelmente fora esquecido em alguma prateleira para a sorte de alguma traça.

O que me traz a memória este episódio, foi o fato de que no primeiro que show que assisti, do músico Raul Ellwanger, no Sarau da Assembléia, em Porto Alegre, subira ao palco, para acompanhá-lo, o renomado músico e compositor Jerônimo Jardim, autor de obras-primas como “Moda de Sangue”, mais tarde gravada por Elis Regina e “Purpurina”, interpretada por Lucinha Lins, dentre outros diversos sucessos nacionais também da autoria de Jerônimo.

Para minha sorte, fomos apresentados, e com um breve aperto de mão sabia que havia ganhado a noite, pois além de assistir um show grandioso do Raul, de quebra ainda conheci dois, dos maiores ícones da música popular brasileira.

Encontrei-me novamente com Jerônimo na Festa do Dourado, que ocorre uma vez por ano na fazenda de propriedade do também músico Renato Borghetti, e desta vez pude gozar de dois dias na companhia de meu novo ídolo, onde compartilhamos da mesma sombra, da mesma conversa e do mesmo violão.

Esta semana, navegando pela web, ancorei minha nau virtual no site do Jerônimo (http://www.jeronimojardim.com/), e ali fiz várias descobertas acerca do músico, tais como os festivais vencidos, outras composições ao qual o músico participara, apresentações, bem como os livros publicados.

O que me faz escrever isto tudo, é que um dos livros publicados, havia um que se chamava Cri-cri, o Grilo Gaudério.

Ao ler o título, vieram à tona estas íntimas e bem escondidas lembranças de infância.

Jamais imaginei que meu livro favorito quando criança, tivesse sido escrito por Jerônimo Jardim, aliás, tomei conhecimento que Jerônimo Jardim possuía livros publicados ao perlustrar a página virtual do músico.

Coincidência ou não, acompanho a carreira de Jerônimo desde criança, mesmo sem saber, e a sorte quis que o encontrasse vinte anos mais tarde, porém não como fã de um escritor de livros infantis, mas como fã de um dos maiores compositores da música brasileira.

Aproveitem a música e a literatura...

Guilherme de M. Trindade

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Minha mãe...

Ariane me deu vida, não somente ao nascer, mas a cada instante após. Mulher que nunca precisou mais do que o necessário. Que soube distribuir de forma igual o amor aos cinco filhos. Fonte inesgotável de sabedoria e afeto. Pessoa ímpar.

Das dores do parto aos primeiros passos, do primeiro dia na escola a formatura, do primeiro amor ao primeiro beijo, da pior das derrotas a maior das vitórias, dos sonhos e das idéias loucas, da ética e da moral, do que foi e do que vier, sempre viveu e viverá por mim, sem clamar domingos ou feriados.

É indescritível, sem demagogias, transmite bondade pelo olhar.

Mãe...obrigado pelos pés no chão... e por me fazer voar...

Aproveitem suas mães...

Guilherme de M. Trindade

terça-feira, 5 de maio de 2009

Atores principais, coadjuvantes e figurantes...

Domingo passado encontrei-me com dois amigos de infância para assistirmos um vídeo gravado em uma câmera amadora de oito milímetros, feito por nós, onde registramos, em 2002, nosso dia-a-dia no último ano escolar.

Interessante, é que nestes sete anos, nenhum de nós havia visto o vídeo, o que veio a tornar esta, uma das sessões de cinema mais engraçada de nossas vidas.

Mudanças físicas, penteados de cabelo, além da moda inerente a época, provocaram-nos dores musculares devido ao excesso da felicidade que transbordava em formato de risadas.

O que chamou a atenção, é que éramos apenas três de todos os colegas que apareciam, e que haviam iniciado aquela caminhada conosco. Onde andariam? Preservaram amizade com alguém da turma, assim como nós? Ingressaram no curso superior? Concluíram? Casaram? Filhos?

Notícias tinham-mos de poucos, mas a grande maioria não lembrávamos o nome, ou ainda, sequer recordávamos que haviam sido nossos colegas.

Estranha sensação esta, de que certas pessoas existam para serem apenas figurantes no filme de nossas vidas, seja na sala de aula, no trem ou na fila do banco. Pessoas que talvez cruzaremos esta única vez, e que pouco nos importa a película que cada uma delas estrela.

Podemos também, chamar de coadjuvantes aqueles que fizeram participações marcantes , como no caso, para mim, os amigos que também assistiam ao filme comigo, uma vez que preservamos a amizade e mantemos contato, ou ainda, em outras palavras, contracenaram mais vezes comigo pelos palcos da vida.

E assim se desenrola o filme de cada um, surgindo novos atores com nenhuma, ou alguma fala, ao qual pouco, ou nada se sabe sobre eles, ou eles de nós, e, desta forma, também viramos os figurantes, ou coadjuvantes na vida dos que são coadjuvantes ou figurantes na nossa.

Aproveitem a vida...

Guilherme de M. Trindade