quinta-feira, 25 de junho de 2009

Leituras obrigatórias...

O direito de sonhar (Eduardo Galeano)

Tente adivinhar como será o mundo depois do ano 2000. Temos apenas uma única certeza: se estivermos vivos, teremos virado gente do século passado. Pior ainda, gente do milênio passado.

Sonhar não faz parte dos trinta direitos humanos que as Nações Unidas proclamaram no final de 1948. Mas, se não fosse por causa do direito de sonhar e pela água que dele jorra, a maior parte dos direitos morreria de sede. Deliremos, pois, por um instante. O mundo, que hoje está de pernas para o ar, vai ter de novo os pés no chão.

Nas ruas e avenidas, carros vão ser atropelados por cachorros.

O ar será puro, sem o veneno dos canos de descarga, e vai existir apenas a contaminação que emana dos medos humanos e das humanas paixões.

O povo não será guiado pelos carros, nem programado pelo computador, nem comprado pelo supermercado, nem visto pela TV. A TV vai deixar de ser o mais importante membro da família, para ser tratada como um ferro de passar ou uma máquina de lavar roupas.

Vamos trabalhar para viver, em vez de viver para trabalhar.

Em nenhum país do mundo os jovens vão ser presos por contestar o serviço militar. Serão encarcerados apenas os quiserem se alistar.

Os economistas não chamarão de nível de vida o nível de consumo, nem de qualidade de vida a quantidade de coisas.

Os cozinheiros não vão mais acreditar que as lagostas gostam de ser servidas vivas.

Os historiadores não vão mais acreditar que os países gostem de ser invadidos.

Os políticos não vão mais acreditar que os pobres gostem de encher a barriga de promessas.

O mundo não vai estar mais em guerra contra os pobres, mas contra a pobreza. E a indústria militar não vai ter outra saída senão declarar falência, para sempre.

Ninguém vai morrer de fome, porque não haverá ninguém morrendo de indigestão.

Os meninos de rua não vão ser tratados como se fossem lixo, porque não vão existir meninos de rua. Os meninos ricos não vão ser tratados como se fossem dinheiro, porque não vão existir meninos ricos.

A educação não vai ser um privilégio de quem pode pagar por ela.

A polícia não vai ser a maldição de quem não pode comprá-la.

Justiça e liberdade, gêmeas siamesas condenadas a viver separadas, vão estar de novo unidas, bem juntinhas, ombro a ombro.

Uma mulher - negra - vai ser presidente do Brasil, e outra - negra - vai ser presidente dos Estados Unidos. Uma mulher indígena vai governar a Guatemala e outra, o Peru.

Na Argentina, as loucas da Praça de Maio vão virar exemplo de sanidade mental, porque se negaram a esquecer, em tempos de amnésia obrigatória.

A Santa Madre Igreja vai corrigir alguns erros das Tábuas de Moisés. O sexto mandamento vai ordenar: "Festejarás o corpo". E o nono, que desconfia do desejo, vai declará-lo sacro. A Igreja vai ditar ainda um décimo-primeiro mandamento, do qual o Senhor se esqueceu: "Amarás a natureza, da qual fazes parte". Todos os penitentes vão virar celebrantes, e não vai haver noite que não seja vivida como se fosse a última, nem dia que não seja vivido como se fosse o primeiro.


Eduardo Galeano (1940-) é jornalista e escritor uruguaio. O texto foi publicado no diário argentino Página 12, em 29 de outubro de 1997, com o título "El derecho de soñar".

Aproveitem os sonhos.

Guilherme de M. Trindade

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Músicas para ler!!!

SERES TUPY (Pedro Luis - Pedro Luis e a Parede)

Seres ou não seres
Eis a questão
Raça mutante por degradação

Seu dialeto sugere um som
São movimentos de uma nação
Raps e Hippies
E roupas rasgadas
Ouço acentos
Palavras largadas
Pelas calçadas
Sem arquiteto
Casas montadas, estranho projeto
Beira de mangue, alto de morro
Pelas marquises, debaixo do esporro
Do viaduto, seguem viagem
Sem salvo conduto é cara a passagem
Por essa vida que disparate
Vida de cão, refrão que me bate

De Porto Alegre ao Acre
A pobreza só muda o sotaque


Aproveitem a música.

Guilherme de M. Trindade

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Brasil, o país do futebol...



Acompanhamos ansiosamente pela definição das cidades sedes da Copa do Mundo 2014 que se realizará no Brasil.
Uma fortuna incalculável será investida para construção de novos estádios, além da infra-estrutura necessária para que os turistas levem para casa uma boa impressão de nosso país.
Somente para Porto Alegre, estima-se que em média, para que seja reformado o estádio já existente, a quantia de trezentos milhões de reais.
A pergunta que paira: Estaríamos realmente prontos para sediar o evento?
O presídio central da capital gaúcha (considerado o pior do Brasil) já está com sua capacidade esgotada há décadas, e as escusas para a não ampliação sempre foram as mesmas, a falta de verba.
No mesmo desiderato, tornaram-se corriqueiras as decisões de nossos Magistrados no sentido de manter soltos os infratores, visto ser fisicamente impossível o cárcere destes por falta de espaço. Além do sistema carcerário, outros setores também vão sucumbindo pela desídia de nossos líderes.
Temos mais do que futebol para mostrar aos visitantes, sugiro um “tour” para mostrar de onde sai todo este talento, e o que motiva nossos garotos a buscar esta vida de glamour, fica aí a dica, mas não garantimos a segurança.

Aproveitem a vida....
Guilherme de M. Trindade

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Desastres aéreos e outras mentiras...

O acidente com o avião da Airfrance que vitimou 228 passageiros de vários lugares do globo veio nos reabastecer com assuntos por longa data.

Pelos noticiários, em apenas 2 dias já aprendi tudo sobre tempestades em alto mar, turbulências, sonares, métodos de busca, etc...

É impressionante como a tragédia vende.

Sequer encontraram a aeronave e os jornais já narram em suas páginas os detalhes de como se deu o acidente, enquanto nas ruas as pessoas discutem qual a versão mais verdadeira até então divulgada.

A receita sempre funciona, o negócio é muito lucrativo.

Caindo um avião por ano, sendo uma criança arrastada por assaltantes, ou um parricídio na classe-média, jornais e políticos regozijam-se. Aqueles pelo consumo voraz de um povo louco por tragédias, e, estes, pelo fato de que ao menos por um tempo as investigações não serão mais dirigidas a eles.

Os tablóides desrespeitam a privacidade e o momento de dor dos familiares que choram pelos seus.

Com a devida vênia, fico mais chateado ao saber que uma fortuna incalculável está sendo gasta para descobrir o óbvio, qual seja, que um avião caiu e 228 pessoas perderam a vida.

De nada adiantará saber se o motivo foi pane, tempestade ou falha humana.

Infelizmente, não há o que se possa fazer fazer para amenizar as perdas, mas muito se pode para ajudar os que ainda vivem, ou melhor sobrevivem.

Aproveitem as boas notícias.
Guilherme de M. Trindade