quarta-feira, 5 de maio de 2010

O divagar de quem sabe...

Noites (Eduardo Galeano)

A Noite 1

Não consigo dormir. Tenho uma mulher atravessada entre minhas pálpebras. Se pudesse, diria a ela que fosse embora, mas tenho uma mulher atravessada em minha garganta.

A Noite 2

Eu adormeço às margens de uma mulher: eu adormeço às margens de um abismo.

A Noite 3

Eles são dois por engano. A noite corrige.

A Noite 4

Solto-me do abraço, saio às ruas.
No céu, já clareando, desenha-se, finita, a lua.
A lua tem duas noites de idade.
Eu, uma

(In Mulheres, 1997)

Aproveitem o Galeano

Guilherme de M. Trindade

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